sábado, 28 de maio de 2011

"Missão cumprida"



‎"- Não se preocupe, meu filho: no fim dá certo.
Eu em geral protestava:
- Como dá certo? Está dando tudo errado!
E ele persuasivo:
- Porque ainda não chegou no fim."

Enquanto lia esse trecho do livro "A falta que ela me faz" de Carlos Drummond de Andrade, me chamou a atenção algo muito interessante, sobre o fim das coisas, e o que temos em mente como final.
Para alguns essa palavra é o "FIM", porém, encarar que final é a resolução do problema é algo muito inteligente de se fazer. No trecho deste livro por exemplo "Chegar ao fim", em que ele se refere, é poder então ficar com sua amada. Nessas circunstancia o fim é algo prazeroso,uma conquista, mas e quando o fim vem com uma derrota? O termino de um namoro, por exemplo? Não me incomoda o fato de ver a alguém chorar por conta disso, desde que a pessoa chore de fato pelo fim do namoro e não pelo fim da vida, e distinguimos isso pelo tempo em que a pessoa gasta se lamentando, algumas não conseguem perceber que o fim de um namoro é o começo de coisas novas, novas amizades, novos amores, e quando encaramos assim, passamos a ver o termino apenas como uma fase que passa, e não como uma doença sem fim... Não como O fim.
Não é raro também, encontrarmos quem se desespera quando um emprego se vai, "O que irei fazer agora?"  Pessoas que choram eternamente com o termino de um namoro são as mesmas que choram eternamente por terem perdido um emprego, e por acharem que tudo dura para sempre, não se preparam para fazer do fim um começo, vivem como se o fim nunca fosse chegar ao menos uma vez. Se repararmos  a vida delas, iremos notar que esta pessoa não possui um curso, uma especialização, porque se apoia no vazio de acreditar que coisas que provavelmente sempre acabam, durarão para sempre, da mesma forma vemos pessoas em casos mais extremos dando cabo da própria vida por conta do termino de um relacionamento,  e no velório de pessoas assim estão os antigos amigos, antigos porque ela se desfez de todos por conta de seu namoro. Então ela não pode se lembrar deles e que eles estariam ali no momento difícil, porque amigo de verdade, dura para sempre. 
E é claro existe também um outro fim que não é bem visto mundo a fora, pois é.. estou falando do fim da vida. Fim triste, para todos, pior ainda se encararmos como eu mesmo escrevi:  "Fim da vida", mas será mesmo necessário e justo rotulo tão duro para tal momento?
Encaremos o fato de que esta pessoa foi colocada aqui na terra e teve a oportunidade de sentir, respirar, demonstrar sentimentos, provocar sentimentos, sorrir,  chorar, assistir um bom filme, ouvir uma boa musica, talvez ele tenha ido embora bem pequeno de forma prematura aos nossos olhos, mas do que se há de reclamar? Quase sempre esses pequenos trazem união, e alguma mensagem de amor bem estampada em suas vidas, que embora pequenas e curtas são quase sempre mais importantes e significativas do que outras centenárias. 
Não me entenda mal e nem me ache uma pessoa rancorosa, amargurada, sem sentimentos enfim... um coração duro, pois eu também choro e sofro com namoros frustrados e com a partida de pessoas queridas.   Mas aprendi um segredo e gostaria de contar pra vocês, todo final por mais triste que pareça, é na verdade a própria vida, dizendo: "Missão cumprida". 


FIM

domingo, 8 de maio de 2011

O saber se vai com o tempo

Sentado de frente pra casa da pessoa que ama (ela ainda não sabe) e encostado em um poste, o garoto pensa em tudo que já viveu, pensamento raro, na verdade único na vida da jovem criatura, talvez pela inutilidade de tal pensamento, que não irá lhe trazer um pipa, uma bola, ou o amor da menina da casa da frente. E da mesma forma que não achamos motivos para tal reflexão, mais difícil ainda é explicar à vocês porque ele resolveu faze-la.
Fato mesmo, é que durante este momento ele pode perceber o quanto já havia vivido. Saudades da vovó que se foi, do tio João e do troco que sobrava, e ele sempre me dava quando ia comprar cigarro na venda pra ele, e como será que anda o bolinha? (SEU PRIMEIRO E ÚNICO CACHORRO DE ESTIMAÇÃO QUE A CARROCINHA LEVOU EMBORA. O MENINO JÁ NÃO ACREDITAVA EM PAPAI NOEL, NEM ESPERAVA O COELHINHO DA PASCOA, MAS POR ALGUMA RAZÃO, RESOLVEU ACREDITAR QUANDO SEUS PAIS CONTARAM QUE O BOLINHA HAVIA SIDO LEVADO À UM CIRCO, SÓ DE CACHORROS), também se recorda da vez em que se perdeu na praia, e foi levado por um salva vidas até um posto policial, onde foi encontrado depois, por sua família, e enquanto temia levar a maior bronca da vida, sua mãe o abraça chorando, e dizendo que o amava, lembra também das brigas que teve com sua irmã, e nas inúmeras vezes que ela disse que o odiava, e que nesse mesmo episodio da praia ela também estava presente com a maior cara de preocupação e alivio, no fundo ela também disse "te amo".
De tudo mais o garoto lembrou , do medo que sentiu quando seu pai perdeu o emprego, ou quando chegava a temida reunião de pais, se lembrou inclusive do medo que sentirá das reuniões que estão por vir. Lembrou-se também do seu primeiro dia na escola, da professora Josefina, e de seus óculos, ele parecia dizer: "Sou professora, e você é o aluno". 
Das broncas que o Carlinhos levava, por insistir em não compreender a mensagem que ela passava quando colocava aqueles óculos e entrava na sala de aula. Mas ele bem que merecia, como daquela vez em que pintou todos os dentes com um pincel que seria usado na atividade de artes, o grande problema é que alem da bronca fomos todos castigados, e proibidos de levar o brinquedo na tão esperada sexta feira, para a escola.
Foi então, que todos esses pensamentos e memórias foram interrompidos por uma indagação:
_Poxa, tanta coisa eu já vivi, como ainda me dizem que eu não tenho experiencia?

E a resposta? Bom, esta veio logo em seguida:
_Pois eu tenho sim, muita experiencia, e sei de tudo! 
Foi quando todos os pensamentos do mundo foram imediatamente cortados. 
A tal garota amada vinha virando a esquina, em direção a sua casa, e o garoto mais "elétrico" do que o poste em que ele estava encostado, fazia a si mesmo mil perguntas ao mesmo tempo:
O que faço agora? 
Falo com ela?
Finjo que nem estou vendo?
Fico de pé ou continuo sentado? 
E se eu levantar e ir embora? Talvez ela não tenha me visto aqui.
Tudo em vão. 
Pois enquanto tamanha sabatina acontecia, a menina passou, parou de frente o portão, abriu o cadeado, e sumiu casa a dentro.
Nada aconteceu, nada foi dito.
Nosso amigo não conseguiu responder nenhuma de suas próprias perguntas.
Mas ele ainda continuava, e continua achando que sabe de tudo.
Lendo este texto, e analisando o que acabei de escrever, fui tomado por um imenso sentimento de inutilidade. Pois, o que de novo falei eu aqui?
Afinal, ele era apenas um garoto, e os garotos sempre sabem de tudo.

Mas ele vai crescer, e se você já cresceu, também sabe que a primeira coisa que ficamos sabendo quando deixamos de ser garoto, é que não sabemos de nada.